terça-feira, 2 de junho de 2009

Eles fazem leis, mas não cumprem

Publicado na edição impressa de ontem (01/06) da Gazeta do Povo:

“Reputação ilibada” e “idoneidade moral” são exigências básicas de quase todos os concursos públicos. Há quem considere a norma subjetiva, até antipática. Mas a verdade é que ninguém quer um encrenqueiro com estabilidade no emprego.

Pena que a regra não vale para os políticos. Afinal de contas, a eleição nada mais é do que um grande concurso, em que as supostas qualidades dos candidatos são levadas à escolha popular. Nessa prova, ter uma vida pregressa incólume seria um pré-requisito ainda mais necessário.

É só ver a habilidade dos nossos legisladores em desrespeitar as leis criadas por eles mesmos. Nas últimas três semanas, vereadores, deputados estaduais, federais e senadores deram mostras de que se acham realmente acima do bem e do mal em algo que afeta todos os cidadãos – as normas de trânsito.

Começou com o trágico acidente envolvendo o ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho. Passou pela notícia de que, assim como ele, outros 19 colegas de Assembleia Legislativa estavam com a carteira de habilitação suspensa. Na semana passada, houve ainda a constatação de que nove vereadores de Curitiba estavam na mesma situação.

Para completar, o Departamento de Estradas de Rodagens anunciou o registro de 1,2 mil infrações de carros a serviço de senadores e deputados federais apenas entre janeiro e fevereiro. Ninguém foi multado, por uma “falha” no sistema de fiscalização de carros com placas especiais.

O pior de todas essas histórias não são as infrações em si. É hipócrita dizer que os parlamentares não têm direito de cometer deslizes no trânsito que todos os mortais cometem. O assustador é a quantidade de erros e, em especial, aquela sensação de que a lei não irá atingi-los.

Em um dicionário de antônimos, essas atitudes seriam o inverso da definição de idoneidade moral. E se as excelências se lixam para ela, por que o cidadão comum deveria se importar? Calma, nem tudo está perdido, a opinião pública ainda tem capacidade de não se lixar para tudo o que os políticos fazem.

Foi essa indignação, por exemplo, que impulsionou a renúncia de Carli Filho. Só que não basta reclamar, é preciso pôr a mão na consciência para se chegar à raiz do problema. É o eleitor que escolhe mal seus representantes.

Muitas vezes, porém, ele não tem condições de saber se os candidatos têm ou não reputação ilibada. Daí os vários projetos que proíbem as candidaturas dos fichas-sujas. Propostas que, em tese, ferem a presunção de inocência prevista na Constituição Federal e que por isso não devem prosperar.

Sem a proteção desse pré-requisito, cabe ao eleitor “vender caro” o seu voto. Ou seja, pesquisar e pesquisar sobre o passado dos candidatos. Dá trabalho, mas vale a pena. É bem menos desgastante gastar alguns dias de reflexão do que amargar quatro anos de decepção.

*Blog Conexão Brasília, escrito por André Gonçalves

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