Por um motivo simples: a falta de infraestrutura do país.
Cobrir uma Copa do Mundo é um grande privilégio.
Acompanhar in loco a competição esportiva que mais desperta interesse no planeta é o ápice da carreira de todo jornalista esportivo.
Quer seja ele chinês, alemão, argentino.
A Fifa quando escolhe uma sede para a disputa da Copa leva em consideração seus interesses.
E eles não são nobres como divulga.
O que ela pretende não é o desenvolvimento do esporte do país, apesar de ser este o discurso.
O que ela quer é atender sua vontade desenfreada de crescer financeiramente.
Ganhar muito dinheiro, o máximo que puder.
Com construção de estádios, transmissão pela tevê, patrocinadores exclusivos que injetam bilhões de euros.
Até fabricantes de cerveja.
E fazer alianças cada vez mais poderosas nos continentes.
Tudo isso garante à entidade o domínio do maior esporte do planeta.
Por isso as Copas acontecem onde a Fifa precisa expandir seu poder e lucrar mais.
Desde João Havelange, a postura da entidade mudou.
A ingenuidade foi embora.
O capitalismo selvagem a domina.
Agora, apenas chegou ao máximo.
E essa fome de lucro e poder atinge a todos.
Isso explica a falta de comemoração dos jornalistas quando foi definida a África do Sul como sede da Copa de 2010.
A explicação precisa ser pessoal, para ser entendida.
Vou cobrir a minha quinta Copa do Mundo consecutiva.
São vinte anos acompanhando a elite do futebol.
O que as outras quatro, Estados Unidos, França, Japão e Alemanha tiveram em comum?
Infraestrutura.
Segurança.
Tranquilidade para trabalhar.
A certeza do deslocamento no país sem problemas.
Não há um jornalista que vá tranqüilo para a África.
As recomendações são inquietantes.
Para o repórter e, principalmente, para sua família.
É preciso tomar vacina contra febre amarela, contra o tétano, contra a hepatite.
Seria recomendável escovar os dentes com água mineral.
Tomar banho de boca fechada.
Só sair às ruas em grupo.
Não ir a cinema, supermercados, lojas sem duas outras pessoas.
O índice de sequestro, de mortes é altíssimo na África.
Às mulheres que estão indo ao Mundial é recomendável não sorrir aos homens africanos.
O índice de estupros também é inacreditável.
Assim como a Aids.
Por trás do exagero há sim uma grande preocupação.
O pais é pobre, está em desenvolvimento.
O planejamento de deslocamento das sedes da Copa é tenso, por causa da violência.
Tudo isso não é culpa dos africanos.
Tal qual como no Brasil, um país de Terceiro Mundo tem gravíssimos problemas.
Desigualdade social.
Se a Seleção de Dunga chegar à final da Copa, os jornalistas brasileiros ficarão no mínimo, entre preparação e decisão do Mundial, 47 dias.
O sistema de telecomunicação no país ainda é precário.
Não há serviço regular de táxis.
Em vez de hotéis, a preferência das grandes equipes de jornalistas é para ficar em condomínios, mais seguros.
As estradas são perigosas.
Assim como aconteceu no Panamericano, o exército africano estará nas ruas para tentar proteger o turista.
Na teoria, tudo é maravilhoso.
A Fifa pega um país pobre e promove a Copa do Mundo lá.
Movimenta bilhões de dólares e desenvolve um crescimento forçado.
Não pensa no que deixa para trás.
Ou quem jogará depois que a Copa acabar nas arenas milionárias que serão construídas em Manaus, Natal e outras tantas espalhadas pelo Brasil em 2014?
Antes de serem construídas já são consideradas 'elefantes brancos'.
A preocupação da Fifa é vender o próximo Mundial.
E para que isso aconteça, muitas pessoas 'sem grande importância', como os jornalistas do mundo todo, são expostas.
Mas é apenas o novo preço para estar em uma Copa do Mundo.
O preço do capitalismo.
Quanto mais pobre o país, maior o lucro.
O resto... É apenas o resto...
*do Blog do Cosme Rímoli
A FIFA não tem que ficar ser preocupando com estadios que ficarão parados não... vejam o caso do Atlético Paranaense: fez a Baixada seguindo o caderno de exigências da FIFA (de 1999), e hoje passados somente 11 anos, a FIFA tem outro caderno de "exigências" completamente diferente e o estádio daqui, que segui o caderno de 99, não serve mais... precisa de "readequações".... e lá se vão mais alguns vários milhoes - agora pagos pelo nosso bolso, pois o clube que é dono do estádio, diz que só vai pagar 30% da conta, mas o estado (do Paraná) e o município (Curitiba) não abrem mão de ficar fora do "espetáculo" que é uma "Copa do Mundo".
Quem tem que ser preocupar com o país são os seus representantes e também a sua população. Nós (governo federal, estado, e município) , não temos dinheiro para pagar um salário decente a professores, policiais, enfermeiros, melhorar estradas, ter melhor infraestrutura, ter saúde e educação decente, dar assistência digna a sua população que paga os impostos mas não tem o merecido retorno, etc... Mas temos para fazer a Copa em 2014.
Não dá pra dizer que o Brasil seja muito diferente da África do Sul, mas a Copa (2014) e Olimpíada (2016) não podem servir de desculpas para de uma hora para outra maquiar o país.
Para mim, a situação deveria ser ao contrário. Primeiro resolva os seus problemas. Depois faça uma grande competição esportiva.
No Brasil, nessas duas competições tenho certeza que seremos campeões em pelo menos uma modalidade "olímpica", e com direito a quebra de recorde mundial: "saltos orçamentais".
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