Que Felipe Melo e Lúcio gritam palavrões durante todo o jogo, não é preciso ser um gênio para adivinhar.
Mas seria impossível supor o bom moço Kaká e o franzino Robinho encarando, provocando e ameaçando jogadores da Tanzânia.
O blog tentou e conseguiu sua melhor fonte.
Alguém de total e irrestrita confiança.
E essa privilegiada fonte passou tudo o que se passou no gramado no último amistoso antes da estréia do Brasil na Copa de 2010.
Tudo não escapou dos olhos e dos ouvidos da fonte no estádio Nacional de Dar es Salaam.
Aqui está o relato, exclusivo.
Mas antes mesmo de o jogo começar, vale a pena relatar o desespero de um DJ.
Ele estava controlando a insuportável seleção de reggaes que deveria servir para animar a torcida no estádio.
Só que o volume era tão ensurdecedor que o preparador físico da Seleção, Fábio Mahseredjian, foi atrás do gol pedir que abaixasse.
Estava impedindo os jogadores de ouvir os comandos dele e do outro preparador, Paulo Paixão.
Fabio foi desprezado pelo DJ.
E o reggae continuou a massacrar os tímpanos de quem estava no gramado, já que gigantescas caixas de som foram colocadas na pista de atletismo.
Mas a raiva de Fábio trouxe má sorte ao DJ.
Era ele também quem controlava os hinos nacionais que foram tocados antes da partida.
No do Brasil, nenhum problema.
No da Tanzânia, o constrangimento.
O CD deveria estar desgastado, riscado.
E ficou repetindo o refrão.
Por várias vezes.
A torcida ficou irritada, os jogadores locais, possessos.
O hino recomeçou do início.
A bronca ao berros que o DJ tomou de um general do Exército da Tanzânia foi absurda.
Ele esteve a ponto de dar um soco no infeliz, quando se acalmou.
Praga do preparador físico brasileiro.
Mas começou a partida.
Nos primeiros vinte minutos e cinco, a pressão à defesa brasileira pelo lado esquerdo da defesa.
Nas costas de Michel Bastos.
Juan chega a tomar uma bola no meio das pernas ao tentar cobrir o lateral.
Lúcio fica possesso.
E começa a desabafar xingando todos os palavrões possíveis e imagináveis.
Xinga e olha para cima, para não desmoralizar Michel.
Nem as vovuzelas, praga na África toda, impediram a fonte de ouvir os palavrões em bom português.
Lúcio faz gestos irritados ao bandeira.
Mas depois, sutilmente olha para o lateral.
O capitão manda:
"Presta atenção, porra...", e abra as mãos.
Juan é mais sutil, mais suave.
Chega perto e fala no ouvido de Bastos.
Lúcio é a explosão e Juan, a razão.
Michel Bastos, esperto, tratou de defender mais o seu setor.
O problema foi resolvido.
A dupla de zaga brasileira está muito entrosada.
Não conversa.
Se entende pelo olhar e gestos.
É muito interessante.
Reação típica de quem se conhece há anos.
Lúcio e Juan sabem que foram uma das melhores duplas de zagueiros do mundo porque se completam.
Já Felipe Melo merece um câmera o acompanhando em todas as partidas.
Ele provoca, encara, xinga os adversários.
Principalmente os que estão se destacando no ataque adversário.
Foi assim com os jogadores de Tanzãnia.
Mal conseguiam um drible, uma tabela ou chute a gol, bastava a bola ficar do outro lado do campo e ele se aproximava.
Ficava olhando com cara de briga e soltando vários palavrões em português.
E a tática funciona.
Alguns adversários, assustados, saíram de perto dele.
E passaram a tocar a bola ao chegar perto do volante.
O que resolveu encará-lo, depois de uma dividida, voou depois de uma falta.
Foi se queixar com o árbitro e passou a jogar longe de Felipe.
Seu companheiro de intermediária é um gentleman.
Gilberto Silva segue a escola de Juan e prefere falar ao pé do ouvido.
Mesmo com o adversário.
Experiente, três Copas, não quer chamar a atençao.
E o importante é que é respeitado.
Assim como os que escutam suas orientações e os adversários a cobrança, têm a mesma reação.
Se afastam, balançando a cabeça afirmativamente.
A maior preocupação de Dunga era com Kaká.
Durante todo o jogo ficou olhando e fazendo sinais de incentivo ao meia.
"Vai, vai, vai", gritava, como um pai acompanhando treinamento de um filho adolescente, mal o meia pegava na bola.
Vibrou como uma avó ao saber que seu neto passou no vestibular no gol de peito de Kaká.
As orientações e gestos de incentivo duraram até o final do jogo.
Ao lado do gramado deu para perceber a tristeza de Júlio Baptista.
Ele treinou muito e esperava entrar contra a Tanzânia.
Só que Dunga o havia avisado que só jogaria se Kaká não suportasse o ritmo, pedisse para sair.
Resultado, Júlio assistiu o jogo com as mãos no queixo, desapontado.
Dunga nem o mandou aquecer, ficou sentado no banco, vendo Kaká.
Por falarno meia, ele se mostrou ontem influenciado pelos recentes cortes de jogadores importantes da Copa.
Bastava qualquer adversário dividir com força a bola com ele, e o bom moço desaparecia.
Encarou, provocou, ameaçou a todos que ousaram fazer falta nele, sujar seu uniforme.
Empurrou, não aceitou pedidos de desculpas e exigiu, com dedo em riste, cuidado com as entradas aos jogadores da Tanzânia.
Principalmente os pontapés por trás. Ele até revidou algumas faltas.
Robinho, Luís Fabiano e Eleano e Felipe Melo eram seus guarda-costas.
Se ele discutia com alguém, quando a bola estava longe, um deles logo se aproximava do jogador e encarava o incauto.
Há coisas importantes que 18 câmeras não pegam.
Robinho é muito folgado.
Desafia o adversário, provoca.
O olha até que fale alguma coisa.
E aí xinga.
E só quem é xingado ouve.
Na próxima bola que o brasileiro recebe o procura para o drible.
É assim que busca falta, o cartão amarelo, o vermelho.
Não há santo no futebol.
Muito menos na seleção brasileira.
Por duas vezes ficou evidente o quanto Luís Fabiano quer mudar a sua imagem.
Discutiu com marcadores, xingou.
Ofendeu as mães dos zagueiros.
Quando o clima parecia que iria esquentar, ele virava as costas.
Parecia lembrar que estava com a camisa da Seleção e não de Ponte Preta, quando as suas expulsões eram perdoadas.
Mas Luis Fabiano se cobrava, não se perdoava quando chutava mal a bola.
Sua raiva era evidente por não conseguir marcar.
Ele já soma três coletivos e dois jogos em branco.
Mal acabou o jogo e ele não quis nem olhar para ninguém.
Em compensação, Ramires falava sozinho de tanta felicidade.
E sorria.
A bola do outro lado do campo e ele correndo sorrindo.
Sabe que vai ser útil de verdade na Copa do Mundo.
A cena, de acordo com a fonte, foi emocionante.
Além dos palavrões novos, algo fica marcado para quem acompanha de tão perto um jogo da Seleção de Dunga.
Ela passa os 90 minutos atuando com raiva.
Cada lance fica nítido esse sentimento.
Os jogadores compraram para valer a idéia que são eles contra todos.
Essa filosofia trouxe união.
Se apóiam, se cobram e não admitem qualquer desrespeito por parte do adversário.
E protegem Kaká.
Com a devoção de irmãos mais velhos para com caçula, o mais talentoso da família.
Para o bem ou para o mal, o Brasil de Dunga está pronto.
Que venha a Copa do Mundo...
*publicado no blog do Cosme Rimoli
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