quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quase R$ 1 bi por dia no cheque especial

São R$ 975 milhões emprestados pelos bancos. O problema são os juros de 157,1% ao ano

Os bancos emprestam R$ 975 milhões por dia para cobrir débitos em conta corrente. Em maio, esse foi o valor médio diário destinado aos clientes que entram no cheque especial, informa o último relatório divulgado pelo Banco Central (BC). O volume é 14,7% maior que o de janeiro (R$ 850 milhões). Crédito farto e fácil, porém, muito caro.

Comparado com outras modalidades de crédito, o cheque especial é o que apresenta a maior alta em volume de dinheiro liberado no período. O valor diário voltado às operações de empréstimo pessoal - que inclui também os consignados - registrou variação de 11,8% em maio em relação a janeiro. No caso do cartão de crédito, houve um aumento de 13,8% do volume de recursos no período.

De acordo com Alcides Leite, economista e professor da Trevisan Escola de Negócios, a inflação (que acumula 3,64% no ano) foi a principal razão que levou os consumidores a recorrerem mais ao cheque especial. “As famílias estavam acostumadas a gastar um determinado valor em aluguel e compras de supermercado. Quando o preço dessas despesas fixas aumentou, o salário não conseguiu mais cobrir os custos e a conta ficou no vermelho.”

Mas a culpa não foi só da inflação. “O equilíbrio financeiro das famílias já estava muito vulnerável”, observa Leite. Antes que a inflação atingisse patamares elevados, os consumidores tinham aproveitado as condições econômicas favoráveis - o aumento da renda e principalmente a expansão do crédito - para ir às compras. “Dessa maneira, muitas famílias comprometeram sua renda extra com o pagamento de prestações, sem deixar uma margem para imprevistos”, declara Leite. “ Agora que os preços subiram, os consumidores endividados não têm dinheiro sobrando para compensar essa diferença.”

Para Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o aumento da procura pelo cheque especial também é fruto de um trabalho dos bancos. “Nos últimos anos, as instituições financeiras fizeram um esforço muito grande para conquistar mais clientes”, diz. “Com a abertura de mais contas correntes houve uma ampliação do acesso ao cheque especial.”

Ter mais crédito à disposição dos consumidores é uma coisa positiva, avalia Douglas Pinheiro, economista e coordenador do curso de Administração das Faculdades Rio Branco . “Mas muitas pessoas não têm educação financeira e por isso se atrapalham ao escolher a opção de empréstimo mais adequada.”

O problema é que os juros do cheque especial são muito altos. De acordo com o BC, eles somam 157,1% ao ano, ante 48,4% do crédito pessoal, por exemplo. Por isso, segundo Pinheiro, o cheque especial deveria ser usado apenas em situações emergenciais e por um período curto . “Mas como esse crédito não requer aprovação e é incorporado diretamente à conta, o correntista acaba usando o recurso sem nem perceber”, afirma.

O publicitário Jonathan Contes, de 24 anos, já caiu nessa armadilha. “Cheguei a estourar o limite do cheque especial e tive que pagar, entre juros e multa, quase R$ 400”, lembra. Depois disso, ele aprendeu a analisar as opções de financiamento. Entre seu cartão de crédito (que tem juros de 10,4% ao mês) e o cheque especial ( 8,42% ao mês), ele fica com a segunda opção. “Mas quando quero fazer uma compra maior, peço um empréstimo pessoal, que tem juros mais baixos.”


COMO CONTROLAR SUAS FINANÇAS

Para quem não entrou no cheque especial, a dica é se planejar para fugir dessa armadilha

Liste suas despesas fixas e a data de pagamento de cada uma delas. A soma desses gastos deve ser equivalente a, no máximo, 90% de sua renda mensal

Se o valor exceder esse limite, comece a cortar despesas.

Elimine as compras supérfluas e reduza a freqüência de refeições fora de casa, por exemplo

Economizar na conta de luz é outra saída. Troque as lâmpadas por versões mais econômicas e tire os aparelhos da tomada quando não estiverem em uso Em tempos de inflação dos alimentos, tente reduzir as compras no supermercado. Prefira as frutas e legumes da estação e substitua algumas marcas

Se você tiver um imprevisto que o faça gastar mais, recorra a um empréstimo pessoal - de preferência, um crédito consignado

Se você já está no cheque especial, peça um empréstimo a juros menores e prazos mais curtos e quite a dívida anterior

E da próxima vez que precisar de dinheiro, lembre-se que o limite do cheque especial não faz parte do seu salário. Saiba sempre quais são as suas reais possibilidades

*com informações publicadas no Jornal da Tarde

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