“Tempo de verão / e a vida é fácil” diz “Summertime”, a canção imortal de George Gershwin e Dubose Heyward.
Verão, época de vida fácil? Talvez para Gershwin, que nunca passou uma temporada de férias no Guarujá ou em Angra dos Reis.
O verão que nós conhecemos é bem diferente: é a estação de engarrafamentos, vizinhos mal educados, motoristas bêbados estacionando em fila dupla, preços altos, falta d’água e alto-falantes cuspindo música ruim em volume torturante. É o inferno na Terra.
Dá para entender alguém que mora em Minnesota ou na Finlândia se animar tanto com o verão. Ao primeiro raio de sol, todo mundo sai à rua para tentar esquecer os dez meses anteriores de neve e frio.
Aqui não. Temos sol o ano inteiro. Então porque precisamos esperar o verão para liberar nossos instintos bestiais?
Acho engraçado como muitos tentam empurrar o verão como um conceito abstrato de alegria e descontração. Você abre uma revista de moda e todas falam de “moda verão”, de como caftans estão de volta, ou que chapéus usar na estação.
Só se for em Saint Tropez ou Ibiza. A moda verão, pelo menos nas praias que eu conheço, são uma só: para os homens, (camisetas) regata (escrito): “Lembrança de Porto Seguro”, “Sou Chicleteiro” e “Sou Louco Por Ti, Corinthians”; para as mulheres: biquínis cinco números menor que o recomendável.
E a comida? Quantas revistas não trazem “receitas leves e saborosas” para o verão? E quem obedece? Já viu alguém levando aipo pra praia? Eu não. Só vejo salada de batata em "tupperware", lula frita com molho rosé e crianças de dois anos comendo Fandangos com Coca-Cola.
Não são só as pessoas que tiram férias no verão, o bom senso também. Não adianta os jornais avisarem para não pegar a estrada a certa hora, que é justamente quando todo mundo vai descer a serra. Junto.
Parafraseando Joãozinho Trinta: quem gosta de tranqüilidade é intelectual; povão gosta é de bagunça.
Está chegando o verão. Como faço todo ano, vou ficar quietinho em casa, esperando o outono chegar.
*publicado no blog do Andre Barcinski,
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