
Mas os caminhos do destino são misteriosos, não é mesmo?
Devido a compromissos profissionais e pessoais, acabei tocando três obras nos últimos cinco anos.
Foi uma experiência e tanto.
Hoje, não posso me considerar um “expert”, mas pelo menos sei o que é uma laje corrida, conheço a diferença entre os vários tipos de cimento, e compreendendo a importância de uma junta de dilatação bem feita.
Mais importante: aprendi a conviver com seres tão complexos quanto arquitetos, engenheiros e, principalmente, pedreiros.
Listei aqui algumas dicas que, espero, serão úteis para o construtor de primeira viagem.
Arquiteto
Em primeiro lugar: nunca, jamais, em hipótese alguma, nem que a vaca tussa, comece uma obra sem ter um projeto feito por um arquiteto formado. Lembre que, se eles passaram anos numa faculdade, não foi à toa.
Quantas vezes já ouvi: “ah, eu levo jeito pra coisa, vou desenhar eu mesmo?” ou “O projeto é meu!”?
Acredite: isso é receita de desastre.
Tenho um amigo que “leva jeito para a coisa” e desenhou um pequeno condomínio com quatro ou cinco casas. O projeto é um prodígio: cada vez que você abre uma janela, vê um vizinho diferente pelado.
Outra conhecida desenhou uma garagem tão eficiente que o carro não cabe dentro. Se o automóvel entra, ela não consegue fechar o portão. A solução é deixar a lata velha na rua para poder fechar o portão e não ter a casa assaltada.
Prazo
Sempre que se começa uma obra, a primeira pergunta é: “Quando fica pronto?”. Para ter sua resposta, siga essa simples tabelinha:
- Peça uma previsão para o arquiteto e o mestre de obras. Faça uma média dos dois prazos e você terá um número. Este número é popularmente conhecido por “faz-me rir”. Daí pegue o “faz-me rir” e multiplique por três. Pronto: você já tem uma idéia do prazo.
- Se a obra se estender até o fim do ano, próximo ao Natal e Ano Novo, multiplique o “faz-me rir” por quatro. Se chegar até o Carnaval, por cinco. Se estiver construindo em alguma cidade litorânea, com uma praia por perto, multiplique por oito.
Orçamento
E quanto vai custar a obra?
Novamente, peça uma previsão ao arquiteto e ao mestre de obras. Faça uma média dos dois orçamentos e você obterá um valor, conhecido nos meios da construção civil como “engana-trouxa”. Siga essa tabelinha simples:
- Se você estiver na obra TODO DIA acompanhando o trabalho, para se certificar de que ninguém está jogando baralho ou curtindo o novo CD do Mastruz com Cimento, multiplique o “engana-trouxa” por três.
- Se você for à obra pelo menos uma vez por semana, multiplique o “engana-trouxa” por quatro.
- Se você não for à obra e ficar esperando o serviço terminar, vai falir, com 100% de certeza.
Compra de material
Outra receita de desastre é abrir uma linha de crédito numa loja qualquer e deixar o mestre de obas pedir o material que quiser. Sua chance de falência é de 98,7%.
O mesmo vale para arquitetos que escolhem maçanetas de R$ 860,00 ou privadas de porcelana chinesa.
Escolha de equipe
Se a sua obra necessita de seis pedreiros, sugiro ter pelo menos 600 à disposição.
Porque a rotação na equipe de pedreiros é bem maior do que você pensa. Em média, um pedreiro é mandado embora a cada três dias, por razões diversas, que não cito aqui por falta de espaço.
O “índice de esquecimento”, que é o percentual de pedreiros que não aparecem para trabalhar nos dias imediatamente seguintes ao pagamento, é de 47% nos centros urbanos e 83% nas cidades litorâneas.
Bom, é isso. Espero que essas dicas sejam úteis. Boa obra!
*do blog do André Barcinski
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