segunda-feira, 20 de junho de 2011

Custo para construir um imóvel nunca foi tão alto

A escassez de mão de obra em época de aquecimento empurra a remuneração da categoria para cima e afeta o custo do setor

Quem está tocando uma obra, seja uma pequena reforma ou edificação de grande porte, tem na ponta da língua as maiores dificuldades: faltam mão de obra e insumos básicos, como cimento, no mercado.

Como resultado, os profissionais disponíveis e os materiais comprados no pinga-pinga do varejo ficam mais caros a cada semana. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-DI), da Fundação Getulio Vargas, comprova o que os orçamentos apontam: em maio, ele atingiu 2,94%, a mais forte alta em 16 anos, quando começou a série histórica.

As causas estão no aumento do crédito para construção e na expansão da renda, fatores determinantes do chamado boom imobiliário.

Agenda cheia

Paulo Liszyk, mestre de obras com 30 anos de profissão, diz que nunca teve tanto trabalho. Com uma equipe pequena, de cinco pessoas, entre carpinteiros, pedreiros e pintores, ele conta que o rendimento dos profissionais tem ficado entre R$ 1,8 mil e R$ 2 mil. “Hoje só consigo atender os pedidos com agendamento prévio.”

No mesmo ramo há 10 anos, o empreiteiro Clélio Aparecido Ferreira trabalha em família, com o pai e os irmãos, no gerenciamento de uma equipe que chega a 90 pessoas. “Fazemos obras de todo o tipo. Só no Alphaville fizemos 25 casas e dá para ver bem a diferença. Quem pagou R$ 600 mil pelo terreno e pela casa há dois anos, hoje paga R$ 1,5 milhão.”

O vice-presidente de Banco de Dados do Sinduscon-PR, Rodrigo Assis, diz que a entidade está fazendo uma sondagem com suas associadas para saber quantos e quais profissionais estão faltando – algumas construtoras apontam, principalmente, a escassez de carpinteiros, encanadores e eletricistas. “Também estamos conversando com os principais fornecedores de cimento do estado para tentar solucionar a falta do material.”

Além da mão de obra e dos insumos, outro encarecedor do setor, segundo Assis, é o preço dos terrenos. “Mas contra esse fator há pouco o que fazer”. O preço dos terrenos em Curitiba subiu 25% só nos últimos 12 meses, segundo o Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), com o valor médio passando de R$ 536,11 o metro quadrado para R$ 669,48.

Falta de cimento segue pelo menos até agosto

A estimativa é de que só com a plena produção de duas novas unidades da Votorantim em Santa Catarina, em agosto, o mercado do Paraná tenha um alívio no que diz respeito à falta de cimento. A empresa é responsável por cerca de 70% da fabricação do material no estado, segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Elas terão capacidade conjunta de 1,9 milhão de toneladas/ano e poderão suprir melhor o mercado catarinense, deixando a produção de 4 milhões de toneladas/ano da unidade de Rio Branco do Sul livre para abastecer o Paraná.

A assessoria de imprensa da Votorantim diz que a unidade paranaense também vai ganhar mais capacidade até o ano que vem, passando para 6 milhões de toneladas/ano. Por enquanto, a fábrica traz parte do produto de São Paulo para suprir o mercado paranaense, mas não sabe especificar o quanto.

Em maio, a Gazeta do Povo mostrou a falta de cimento em algumas lojas da capital paranaense. Na época, Abimael Araújo, do­­no de uma loja no bairro São Lourenço, chegou a ficar com apenas três sacos do material em estoque. Quase um mês depois, ele diz que a situação se normalizou para compras em pequenas quantidades (10 sacos). “Para grandes quantidades, no entanto, ainda está um pouco complicado.”

A falta de cimento não tem afetado diretamente os médios e grandes construtores de Curitiba, e sim as concreteiras que os atendem. “Nesta semana mesmo, de seis carretas de cimento previstas para o abastecimento de um dia, chegaram apenas duas. Temos de administrar o estoque diariamente, ainda assim o cimento comprado não fica dois dias parado”, diz o engenheiro civil da Leão Enge­nharia, Rafael Magalhães.

O engenheiro civil Rodrigo Porto, da Porto Camargo En­­genha­ria, diz que está com uma obra atrasada por conta da demora no atendimento da empresa de escoramento e também das concreteiras. “Fazemos a concretagem de uma laje de uma obra, em média, a cada 15 dias. Se a concreteira e a empresa de escoramento atrasam uma semana, isso significa um atraso de 50%, o que é bastante. Mas até agora, felizmente, é algo que não afeta o prazo geral.”

Dados do SNIC indicam que o consumo do cimento no Paraná aumentou 57% nos últimos quatro anos e está bem acima do ano passado, enquanto a produção continua praticamente a mesma. O preço médio do material em maio, pelo Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Curitiba e região, foi de R$ 20,40 o saco de 50 quilos – 14% mais caro que há um ano. Na prática, construtores di­­zem que chegou a R$ 23 e algumas concreteiras também foram informadas que o cimento vendido a granel será reajustado, em média, em 10% a partir de julho.

Alternativa

Cal pode substituir produto

Até 50% mais barata que o cimento e com o preço mais estável, a cal pode ser uma alternativa para o mercado da construção civil. O material tem a mesma função do cimento, o de aglomerante, mas perdeu espaço no mercado por causa da maior rapidez de cura (endurecimento) do concorrente: para a cal o tempo é de 90 dias, em média, enquanto para o cimento é de 28 dias. “É claro que hoje seria impraticável substituir todo o cimento de assentamento e revestimento por cal. Mas fazê-lo em parte da obra pode trazer economia e algumas vantagens de performance”, diz o engenheiro químico que trabalhou oito anos da indústria cimenteira e hoje é consultor da Associação dos Produtores de Derivados do Calcário (APDC), Alexandre Garay. A cal não tem função estrutural, mas na aplicação para argamassa de assentamento de tijolos e revestimento oferece vantagens como mais resistência à umidade e mais elasticidade, diminuindo a ocorrência de patologias como rachaduras. (FZM

*com informações publicadas na Gazeta do Povo

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