terça-feira, 19 de julho de 2011

Falta de trabalhadores atrasa obras do Minha Casa, Minha Vida

Embora a segunda etapa do programa já tenha sido lançada, apenas 5% das moradias da primeira fase foram entregues em Curitiba.

As obras da primeira fase do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) estão atrasadas e a entrega dos empreendimentos está demorando entre seis e nove meses mais do que o previsto. As construtoras alegam que a falta de mão de obra e, em menor grau, a burocracia, a escassez de insumos e o mau tempo têm contribuído para os atrasos. A situação pode se agravar nos próximos meses, quando começam as obras da segunda etapa do programa, que vão coincidir também com a execução dos projetos de infraestrutura para a Copa do Mundo.

A nova fase do MCMV prevê a construção de pelo menos 2 milhões de moradias até 2014 em todo o Brasil, mas a maior parte das obras da primeira etapa, lançada há mais de dois anos, não foi entregue até agora. A situação é mais grave nos empreendimentos que atendem famílias com rendimento de zero a três salários mínimos, a base do programa.

Até agora, apenas 5% das obras contratadas em parceria com a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) – que atende famílias com renda de até seis salários – foram entregues em Curitiba. De um total de 6,1 mil moradias contratadas, foram concluídas apenas 96 unidades para famílias que ganham até três salários e 208 na faixa de três a seis salários.

A principal obra do MCMV hoje em Curitiba – o empreendimento Parque Iguaçu I, II e III, com 1.411 unidades, no bairro Ganchinho – deveria ter sido concluída no início do ano, mas a projeção é que as primeiras entregas sejam feitas somente em outubro. “Abrimos 100 vagas de trabalho, mas aparecem sete, oito pessoas interessadas na primeira semana. O principal problema hoje é a falta de mão de obra para tocar os empreendimentos, mas as chuvas também provocaram atrasos”, diz Miguel Murad, gerente de projetos da AM5 Engenharia, responsável pela construção.

“A maioria das obras está atrasada”, reconhece Teresa Elvira Gomes, diretora técnica da Cohab. Segundo ela, além da escassez de mão de obra, faltam insumos, o que está fazendo as construtoras reprogramarem as entregas com a Caixa Econômica. “O MCMV estabelece um prazo de execução de um ano para as obras, mas o banco teria que trabalhar com prazos mais realistas, de acordo com o atual cenário”, afirma.

Alta rotatividade

Como praticamente todos os setores da construção estão aquecidos, a rotatividade de empregados no canteiro está muito alta, segundo as construtoras. “Todas as nossas obras estão com atraso, que vai de um mês a seis meses”, afirma Fernando Mehl Mathias, diretor presidente da FMM Engenharia, que tem 6 mil unidades pelo Minha Casa, Minha Vida em construção no Paraná e em Santa Catarina.

Segundo ele, o problema principal é a falta de pessoal qualificado. “Hoje temos 1,4 mil pessoas nos canteiros, mas poderíamos ter 1,2 mil se tivéssemos pessoal preparado, que garantisse maior produtividade e uma velocidade maior dos trabalhos”, afirma.

O Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-PR) não tem estimativas do tamanho do déficit de mão de obra em Curitiba e região metropolitana, onde trabalham 41 mil pessoas no mercado formal. Outras 30 mil estariam na informalidade, segundo Rodrigo de Souza Araújo Fernandes, vice-presidente da área de política e relações trabalhistas do Sinduscon.

“Reprogramações”

Procurada, a Caixa afirmou, em nota, que não considera que haja atrasos, mas sim “reprogramações”. Segundo o banco, a construtora, passado um ano de execução de obra, pode reprogramar por mais três meses o prazo de entrega por causa de trâmites legais e até outros nove meses para a conclusão final do processo, desde que sua justificativa seja aprovada pela área técnica do banco. O banco não informou o porcentual de reprogramações na carteira do Minha Casa, Minha Vida.

Segundo o balanço do banco, das 13.256 unidades contratadas, 44% foram entregues desde 2009 na capital. Os dados incluem todas as faixas de renda do programa – de zero a três salários, de três a seis salários, e de seis a dez salários.

Pedido de reajuste

Com o grande número de atrasos, as construtoras vêm pressionando o governo para que, na segunda etapa do programa, o valor do imóvel possa ser reajustado se a obra não for concluída em doze meses. De acordo com as construtoras, o problema da mão de obra é generalizado, mas é mais grave em Curitiba do que no interior do Paraná, onde o maior desafio está na falta de cimento. “Aqui tivemos que concorrer com a ampliação da Repar em Araucária, que contratou muita gente”, afirma Maury Amaral Camara, diretor técnico da Habitel Engenharia.

Segundo ele, como as construtoras que atuam no programa têm de respeitar o teto do valor do imóvel, esse tipo de obra fica menos competitiva na remuneração dos empregados. “Nas obras de mercado, a construtora pode dobrar o salário para manter o empregado. No Minha Casa, Minha Vida não podemos fazer isso”, afirma. A construção também acaba perdendo pessoal para outras atividades, já que o mercado está aquecido em praticamente todos os setores. “Em vez de ser servente, o trabalhador prefere ser garçom, vigilante”, afirma.

*com informações publicadas na Gazeta do Povo.

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