quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sobrado, xodó da família

O metro quadrado deste perfil de imóvel chega a custar a metade do preço de uma casa de mesmo padrão. Liberdade e segurança atraem os casais com filhos pequenos

Os investidores de imóveis residenciais apostam no mercado de sobrados na capital para atender a um público que deseja ter a segurança de um apartamento, mas, ao mesmo tempo, a liberdade de morar em uma casa. É o que geralmente procuram os casais com filhos em idade infantil. Na comparação com uma casa convencional, o valor do metro quadrado do imóvel pode cair até pela metade.

Tradicionalmente, os bairros entre as regiões Norte e Sul da capital –Bairro Alto, Atuba, Uberaba, Jardim das Américas, Xaxim e Boqueirão, – e parte da central –, como Mercês e Alto da XV –, são os que mais concentram essas edificações, favorecidas pela lei de zoneamento, que permite construções com até três andares apenas. Dependendo da área, o metro quadrado do sobrado em Curitiba varia entre R$ 2,2 mil e R$ 2,7 mil em média.

Os preços mais em conta estão em bairros da região Sul. “Próximo do Centro estão os valores mais elevados, assim como a maior disputa por espaço e pelas unidades”, afirma o empresário Altamir Aparecido Ferrarezi, cuja construtora de pequeno porte investe em uma média de quatro sobrados ao ano para venda. “Mercês é um dos mais procurados por causa da localização. O retorno do investimento é imediato”, diz. Mas, segundo Ferrarezi, está difícil encontrar terrenos no local. “A oportunidade está em algumas residências antigas, para demolir e construir em cima.”

Na comparação com unidades em edifícios, um apartamento de características semelhantes chega a custar praticamente o dobro do preço, entre R$ 4 mil e R$ 4,5 mil o metro quadrado. “Em um sobrado, tudo é área útil. No apartamento, a metade é área comum e garagem”, comenta o diretor comercial da JBA Imóveis, Ilso José Gonçalves, que tem os sobrados como carro-chefe dos negócios. O valor da taxa de condomínio também influencia o comprador, pois mesmo quando é em condomínio fechado, acaba sendo menor. “Sai de 10% a 15% do valor da taxa de um condomínio de apartamentos, quando não é zero.” Outros atrativos para as famílias são quintal e a oportunidade de ter espaço na garagem para mais de um automóvel.

Compradores não querem mais escolher na planta

Nos últimos dois anos a venda de sobrados na planta enfraqueceu, na constatação do diretor comercial da Dakar Construtora, Rene dos Santos Reis. Ele acredita que a preferência mudou porque os clientes são mais exigentes do que eram até 2009. “Os compradores querem o imóvel mais acabado, para terem certeza do que estão comprando”, avalia.

Percebida a mudança de comportamento dos consumidores, Reis conta que o condomínio de 18 sobrados triplex, de 163 metros quadrados de área útil, que está em andamento em Santa Felicidade, passou por duas etapas. A primeira foi a conclusão de duas unidades, que funcionaram como showroom, para depois seguir com as outras 16. As demais estão em fase de cobertura e serão entregues em janeiro. “Mas muito antes os clientes puderam conferir como ficariam as unidades e fizeram propostas, muitas delas com apartamento como parte do pagamento.”

A mesma percepção tem o empresário Altamir Aparecido Ferrarezi, que investe em uma média de quatro sobrados ao ano para venda. As unidades que está construindo no mesmo bairro, de 150 metros quadrados de área útil, ficarão prontas em 60 dias. Porém, nenhum dos imóveis foi vendido ainda nesta fase da obra. “A procura está devagar, mas depois de pronto deve facilitar a negociação.”

Pouco terreno e novas oportunidades

O mercado de sobrados não cresceu na mesma velocidade que o de apartamentos nos últimos anos, avalia Ilso José Gonçalves, diretor comercial da JBA Imóveis. “Isso porque ocupa-se mais terreno para construir menos unidades. Enquanto ergue-se até 100 apartamentos em um terreno estrutural, cabem apenas 16 sobrados na mesma área”, compara. Para ele, dificilmente o número de sobrados aumentará, pela dificuldade em encontrar locais livres. “Mas, a longo prazo, a tendência de valorização é maior.”

Alguns construtores aproveitam o desenvolvimento de cidades da região metropolitana para mudar o foco de áreas concorridas e driblar a consequente alta nos preços. O diretor comercial da Dakar Construtora, Rene dos Santos Reis, revela que começou a investir em um novo nicho no município de Colombo há cerca de cinco anos. “O que tem em Curitiba é para verticalizar. O preço no terreno aumentou em três, quatro vezes nesse período”, avalia.


Mais liberdade para a família

A empresária Margit Zaroni trocou o apartamento de pouco menos de 100 metros quadrados (considerando hall e vaga de garagem) por um sobrado de 220 metros quadrados há nove meses. O imóvel fica em um condomínio fechado, com 20 sobrados. O objetivo de Margit e o marido, Leandro, era ganhar mais liberdade, principalmente para os filhos Bernardo, de 4 anos e meio, e Laura, de 1 ano e 8 meses.

No prédio onde moravam, com 32 unidades, a única área de lazer era o salão de festas. As brincadeiras tinham de ser dentro de casa. “Aqui tem toda a liberdade para jogar bola e andar de bicicleta com a segurança de estar dentro do condomínio. Além disso, cada sobrado tem sua churrasqueira”, conta.

O metro quadrado do sobrado de Margit, no Jardim Social, saiu por R$ 2,3 mil. Um apartamento com a mesma área privativa e de lazer sairia pelo menos 30% mais, conforme padrões do mercado. A taxa de condomínio caiu em mais da metade. “Está muito mais agradável viver. Inclusive meu filho está mais calmo porque acaba gastando energia. E agora podemos ter cachorro em casa.”


Preferência

Enquanto uma parte dos consumidores faz questão de estar do lado de dentro dos muros do condomínio para garantir segurança, outra está mais preocupada com a privacidade. Quando o condomínio tem unidades de entrada independente, diretamente pela calçada, sem precisar passar pela portaria comum, a casa mais isolada é a preferida. “Depende muito do perfil do cliente. Normalmente são pessoas que não querem vizinhos e, por vezes, querem fugir da taxa de condomínio, que não é cobrada nesses casos”, afirma Ilso José Gonçalves, diretor comercial da JBA Imóveis.


Números

3 mil

sobrados são construídos ao ano, em média, na capital paranaense.

R$ 2,5 mil

é a média de preço do metro quadrado dos sobrados em Curitiba.

100 m²

é a média de tamanho preferida pelos compradores de sobrados construídos a até 10 quilômetros do centro da capital.


*com informações publicadas na Gazeta do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário