terça-feira, 17 de abril de 2012

Juro menor esbarra na desinformação

Juro mais baixo é para poucos. Nem todas as taxas anunciadas pelo Banco do Brasil e pela Caixa estão disponíveis para clientes novos. Quem quer comparar condições não recebe atendimento adequado

Ao contrário do que tem sido amplamente divulgado nas campanhas publicitárias dos programas BomPraTodos, do Banco do Brasil, e Caixa Melhor Crédito, da Caixa Econômica Federal, nem todos os consumidores interessados poderão, de fato, se beneficiar das reduções nas taxas de juros de algumas linhas de crédito. Além disso, informações desencontradas e incompletas caracterizam a busca por esclarecimentos sobre os programas nos dois bancos públicos.

A Gazeta do Povo visitou quatro agências na condição de cliente – duas do Banco do Brasil e duas da Caixa – e constatou que, embora os bancos afirmem não haver distinção entre clientes novos e antigos na aplicação das taxas, algumas delas estão necessariamente atreladas aos níveis de relacionamento do cliente com a instituição. Ou seja: novos correntistas podem ter acesso às taxas reduzidas, porém, não nos mesmos patamares ou mesmo período de tempo.

Na Caixa, o folder publicitário do programa informa que o taxa mínima do cheque especial é de 1,35% ao mês. Além de não informar a taxa máxima (que é de 4,27% ao mês), um número que remete ao pé da página ressalta que a taxa varia de acordo com o nível relacionamento. Para quem não aderir ao novo programa, a taxa do cheque especial segue em 8% ao mês.

Tanto no Banco do Brasil quanto na Caixa, o acesso às novas taxas é facilitado para quem já possui conta-salário ou recebe benefício ou aposentadoria na instituição. Quem não se encaixa nestas categorias é orientado a pedir a transferência da conta para os bancos em questão. Também não é possível, segundo os funcionários de ambos os bancos, fazer simulações das taxas de empréstimos ou financiamentos de veículos, sem antes transferir ou abrir uma conta nos referidos bancos. Quem busca comparar taxas e tarifas para uma possível portabilidade de serviços bancários, por exemplo, consegue apenas informações insuficientes, que podem levar a uma decisão precipitada e ruim para o bolso.

No Banco do Brasil, por exemplo, os funcionários das duas agências não deixaram claro que correntistas e novos correntistas que se encaixam nas modalidades de crédito consignado para servidores públicos e cheque especial não precisam aderir a um dos cinco pacotes de serviços do programa. Por outro lado, para as modalidades de financiamento de bens, automóveis, capital de giro e crédito consignado do INSS, a adesão é obrigatória.

Quem faz a adesão a um dos cinco pacotes do programa – beneficiários do INSS (R$ 6,70), econômico (R$18), especial (R$ 30), completo (R$ 34) e pleno (R$54) – paga, entre outros serviços, por uma assessoria financeira do banco, que passará a readequar automaticamente suas operações às melhores taxas de juros da instituição.

Na Caixa, a nova taxa de 2,85% ao mês no rotativo do cartão de crédito estaria valendo apenas para quem aderir ao novo cartão Caixa Azul, criado junto com o programa de redução. No folder publicitário do programa, no entanto, não consta essa informação, e a taxa mínima do crédito rotativo é de 3,97%. Já a taxa anunciada a partir de 1,99% para cartão de crédito vale apenas para o parcelamento das compras em até 36 vezes. Assim, quem possui outros cartões do banco está sujeito a taxas bem mais elevadas que as anunciadas.

Dicas

Antes de optar pela portabilidade bancária por causa da redução das taxas de juros, a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) orienta que clientes procurem informações adicionais e analisem também o valor de outros serviços que impactam o custo final.

Confira algumas dicas da Proteste:

1 - Vale a pena tentar negociar condições melhores na instituição da qual já é cliente. Quem tem vários produtos no mesmo banco, como seguros e aplicações financeiras, tende a ter maior poder de barganha quando precisa de um financiamento.

2 - A decisão sobre permanecer cliente de uma instituição ou migrar para outra deve levar em consideração outros aspectos além dos juros cobrados nos financiamentos. É preciso analisar, por exemplo, os preços dos pacotes de tarifas de cada banco.

3 - As melhores condições para se beneficiar dos juros baixos na Caixa e no Banco do Brasil são ofertadas para os clientes que vierem de outras instituições por meio da conta-salário, mecanismo criado pelo Banco Central que permite ao cliente levar seu salário para o banco de sua preferência desde 2006.

4 - Com os bancos públicos ofertando taxas de juros menores, é hora de tomar a iniciativa, procurar o gerente de sua conta e barganhar uma taxa menor. O gerente não vai querer perder um bom cliente. Se essa tática não funcionar, mudar de banco pode ser uma boa opção, porém não sem antes pesquisar bem.

5 - Lembre-se que com a portabilidade bancária, em vigor desde 2006, além da transferência do salário é possível também transferir dívidas de um banco para outro. A operação não tem custos tributários nem tarifa para transferência. Cobranças de multas também não são permitidas.

6 - Contudo, ao avaliar se a mudança vale a pena é preciso ter bastante atenção e procurar saber quais os serviços e tarifas precisam ser contratados para ter acesso aos juros menores. Tais cobranças podem encarecer o crédito e tornar a vantagem dos juros menores nem tão vantajosa assim.

7 - Lembre-se que não basta ir ao banco ou até mesmo fazer a transferência da conta-salário para ter acesso a taxas mais baixas. A definição da taxa de juros cobrada depende de uma série de fatores, como, por exemplo, uma ampla análise de crédito e da verificação do nível de relacionamento do banco com o cliente. Saiba que em muitos casos as atrativas taxas divulgadas são as mínimas e que conseguir contratá-las está condicionado a uma série de fatores, entre eles, o tempo de relacionamento com o banco.

Vigência

Pacotes exigem do correntista período de carência

Enquanto o banco anuncia, por meio de campanhas publicitárias, que os pacotes do BomPraTodos já estão disponíveis aos correntistas, na descrição do pacote, no site da instituição, a data da vigência está prevista apenas para o dia 4 de maio. Ou seja, ele ainda não estaria em vigor. Na Caixa, a situação seria a mesma, segundo informações da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste). Em levantamento feito pela entidade em agências do Rio de Janeiro e de São Paulo, além de taxas diferentes em agências da Caixa para o financiamento de veículos, os juros mínimos da operação estariam disponíveis somente para três meses depois da abertura da conta.

*com informações publicadas na Gazeta do Povo

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