Cornetas olímpicos são identificáveis por expressões como “o judoca amarelou” ou “o nadador foi fazer turismo em Londres”. Não interessa, por exemplo, que o judô seja um esporte imprevisível em que um segundo de distração faça um favorito perder para um azarão, coisa que temos visto com frequência. Ou que o nadador tenha chegado em último não na eliminatória, mas na semifinal ou na final, ficando entre os oito (ou 16) melhores do mundo. Ou que o adversário tenha simplesmente sido melhor.
A única informação que o corneta olímpico processa é “perdeu na decisão do bronze” ou “último lugar”. Quem acha que só deviam ir aos Jogos Olímpicos quem tivesse reais chances de medalha ignora o efeito que o simples fato de competir contra os melhores tem no atleta, especialmente o que está começando.
O pior do corneta olímpico é que as mídias sociais lhe deram a possibilidade de cornetar o atleta sem intermediários. Em Pequim, quando a moda era o Orkut, era difícil chegar diretamente ao competidor porque as críticas ocorriam mais nas comunidades. Agora, o corneta acha as contas de Twitter ou Facebook dos atletas e os chamam, em seus murais, de “amarelões” – ou coisa pior, como o que aconteceu com a Rafaela Silva. Tenho certeza de que aquilo foi coisa de um corneta olímpico.
Não quero dizer que atletas estão imunes a críticas. Todo mundo pode ter reservas ao desempenho desse ou daquele brasileiro em Londres. Assim como não é preciso ser especialista ou praticante da modalidade para dar palpite. E amareladas acontecem, sim, mas chamar qualquer derrota de “amarelada” é injusto não apenas com o atleta brasileiro, mas com o vencedor também. O problema do corneta é a crítica infundada, quase sempre com agressividade. Gente assim atrapalha o esporte olímpico brasileiro. Ainda bem que no dia 12 o corneta olímpico desaparecerá; o problema é que em 2016 ele estará de volta.
Artigo de Marcio Antonio Campos, editor de Opinião no jornal Gazeta do Povo
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