Uma área de 1 milhão de metros quadrados na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) começa a se tornar um novo eixo de exploração imobiliária da capital, a exemplo do que ocorreu com o Ecoville e o Bairro Novo, na década de 1990. O terreno, que pertence à família do ex-governador Jayme Canet Júnior, está sendo transformado no Neoville, novo “bairro”, que deverá abrigar uma população de 15 mil a 20 mil pessoas – o equivalente ao número de moradores do Alto da Glória. Estima-se no mercado que a área possa gerar uma incorporação imobiliária entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,5 bilhão dentro de dez anos.
“Trata-se de uma das últimas áreas disponíveis para exploração imobiliária na região sul da cidade”, diz o diretor financeiro da empresa, Jayme Canet, neto do ex-governador e diretor financeiro da Canet Júnior Desenvolvimento Imobiliário S.A., dona do terreno. Planejado e desenvolvido em parceria com a prefeitura de Curitiba nos últimos três anos, o Neoville será voltado principalmente para a classe média – famílias com renda média de R$ 3.750, mas que em alguns casos chega a R$ 7 mil – e terá casas, sobrados, condomínios horizontais fechados e prédios de quatro a oito pavimentos, comércio e pequenas indústrias. “O nosso foco é aproveitar o crescimento da classe média e o aumento da sua participação no mercado imobiliário. Há muita gente desta faixa de renda que ainda não comprou seu imóvel.”
O terreno, unido pela rua Pedro Gusso à Avenida das Indústrias, pertence à família Canet há mais de 60 anos – antes mesmo de Jayme Canet Júnior ser nomeado governador, em 1975, pelo então presidente Ernesto Geisel. Há alguns anos, a área chegou a ser alvo de propostas de compra por parte de grandes indústrias, mas a família recusou as ofertas. “No início dos anos 2000 já se vislumbrava o crescimento do mercado e a possibilidade de investir na incorporação imobiliária naquele local”, lembra Canet.
De acordo com o consultor do Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon) no Paraná, Marcos Kahtalian, grandes incorporadoras em todo o país vem adotando esse modelo para desenvolver áreas até então inexploradas. “O interessante é que como ela vem acompanhada de infraestrutura e serviços, há uma forte valorização da região. Foi o que ocorreu com o Ecoville, por exemplo.” Os preços dos metro quadrado no Neoville já se distanciam da média da CIC – no novo bairro, é possível encontrar preços que variam de R$ 350 a R$ 400 (terrenos avulsos) até R$ 2,9 mil para a área privativa de apartamentos.
Loteamento
Os trabalhos de prospecção de mercado do Neoville se intensificaram nos últimos três anos, que incluíram a formatação do perfil do loteamento, a elaboração do projeto e o início das obras de infraestrutura, como arruamento, serviços de água, esgoto, drenagem, iluminação e sinalização, que absorveram, até agora, R$ 10 milhões do grupo empreendedor. Nesse caso, toda a infraestrutura é bancada pelo grupo dono da área dentro das normas impostas pela prefeitura. “Cerca de 60% das obras de infraestrutura estão prontas”, diz Canet. A ideia é atrair também a instalação de supermercados, escolas e pequenos shoppings centers. O bairro tem uma área verde significativa: são 238 mil metros quadrados do bosque do trabalhador e 59 mil de um parque linear. A área líquida de terrenos é de 609 mil metros quadrados – desse toral, 123 mil metros quadrados (cerca de 20%) já foram lançados. Cerca de 50 famílias moram hoje na região.
Espanha
Além da venda de lotes avulsos, a empresa fez a incorporação de quatro empreendimentos – todos com nomes espanhóis, em homenagem à origem da família Canet, que veio da Catalunha. No fim do mês, o grupo lança o primeiro empreendimento de apartamentos do bairro, o Barcelona Neoville, com 576 unidades, com 12 torres de seis andares cada. O empreendimento, que teve o pré-lançamento no último feirão da Caixa Econômica Federal, é fruto de uma parceria da Canet (70%) com a Thá (30%) e tem valor geral de venda (VGV) de R$ 100 milhões.
Segundo Ricardo Bindo, supervisor de planejamento Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), a área do Neoville é o último grande vazio imobiliário da região sul da cidade e o primeiro, em muitos anos, voltado para a classe média.
De acordo com Bindo, Curitiba vive um cenário de escassez de áreas, o que deve favorecer, nos próximos anos, a substituição de casas por prédios de apartamentos em alguns bairros. O IPPUC também vem preparando estudos para viabilizar a exploração imobiliária do Umbará, localizado na região sul, com mudanças na lei de zoneamento. “A região tem grande quantidade de área verde, o que é um complicador. Mas estudos revelam que é possível aproveitar para habitação cerca de 50% da área.” A região é dominada hoje por pequenos proprietários. Bindo afirma que a intenção é incentivar a instalação de empreendimentos voltados para diferentes classes sociais no local.
Origem
No passado, área abrigou fazenda de gado
No passado, o terreno do Neoville foi usado como fazenda de gado da própria família Canet. Nos últimos 30 anos, o espaço permaneceu intocado no meio da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), o bairro mais populoso da cidade e conhecido por abrigar a primeira fase de industrialização da capital, na década de 1970. A CIC congrega 5,7 mil empresas e uma população de 174,3 mil habitantes. Se fosse um município, seria o nono maior do estado. Sozinha, essa região representa 10% da área de Curitiba.
Violência
Nos últimos anos, a violência vem aumentando na região, mas os empreendedores do Neoville dizem que estão sendo feitos investimentos em segurança, com a terceirização de serviços de monitoração, e a implantação do posto da Guarda Municipal no Parque do Trabalhador, que limita o bairro. A área pertence à CIC, mas está localizada na integração com os bairros Fazendinha, Campo Comprido, Novo Mundo, Pinheirinho e Capão Raso.
*com informações publicadas na Gazeta do Povo
No Ecoville, exploração começou nos anos 90
A lei 774, de 1975, criou os 75 bairros que existem hoje em Curitiba. Desde então, a única alteração na legislação foi a troca do nome Capanema por Jardim Botânico na década de 1990. Embora não estejam no papel, vários “bairros” foram aparecendo ao longo do tempo. É o caso do Bairro Novo, que pertence ao Sítio Cercado e que surgiu em 1992 com a criação de uma série de loteamentos populares, com mais de 25 mil apartamentos.
Ecoville
Localizado no Mossunguê, o Ecoville é outro exemplo de fenômeno de exploração imobiliária. Até a década de 1980, população e mercado não davam muita importância para a região, composta por casas e chácaras em meio a mais de 800 mil metros quadrados de área verde cortada por duas largas vias rápidas. Foi a partir dos nos 90, que quatro construtoras – Hauer, Casa Construção, Moro e Thá – “descobriram” a região e começaram a construir empreendimentos residenciais verticais de alto padrão, depois de uma mudança na lei de zoneamento para a região. Hoje o Ecoville tem um dos metros quadrados mais caros da cidade.
A última mudança na lei de zoaneamento foi em 2000, para readequar todo o eixo da Linha Verde e permitir o desenvolvimento da região. Neste caso, não apenas a antiga rodovia foi abrangida, mas também vias paralelas e transversais à Linha Verde, que passa por 20 bairros ao todo.
*com informações publicadas na Gazeta do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário