sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sucesso e simplicidade

Acho que finalmente aprendi. Depois de tantos e tantos anos tentando entender, parece que consegui captar a mensagem. Aconteceu na hora em que eu estava ouvindo uma entrevista do Michel Sullivan no programa Pânico da Rádio Jovem Pan FM.

Sullivan explicava que alguns críticos de música mais puristas preferem a MPB mais jazzística do que a MPB soul, pop, que ele faz e disse mais ou menos assim:

- Pra fazer uma música mais jazzística, como a Bossa Nova, você precisa de 60 acordes, enquanto pra uma música mais pop você só precisa de 4.

Imediatamente lembrei de uma entrevista com a cantora Selma Reis em que ela contava um episódo sobre seu filho, que estava aprendendo a tocar violão. O filho teria chegado depois da aula e dito:

- Mãe, que absurdo! A música tal (uma canção de uma banda pop) só tem DOIS acordes!

Sullivan continuou falando no rádio e minha cabeça deu um estalo.

É isso. Os grandes sucessos, aqueles bem populares, estão ligados diretamente à falta de complexidade. Uma música complexa, sofisticada como Sullivan disse, com muitos acordes além dos 3 ou 4, não cola na cabeça porque é de difícil assimilação.

A diferença entre músicas sofisticadas de 60 acordes e canções pop com 4, também se repete em sucessos editoriais. Há livros que são sucesso no mundo todo, cujo vocabulário é 100% conhecido. Você não tem que parar uma única vez para entender o sentido de uma palavra, nem vai precisar de um dicionário. Alguns livros, ao contrário, enriquecem o seu vocabulário porque o autor usa termos que fogem ao seu conhecimento. Você é obrigado a aprender palavras novas para entender o livro. Particularmente eu acho isso instigante. Mas nem todo mundo gosta.

Não estou aqui dizendo que isso é melhor ou pior que aquilo. É fato que coisas mais complexas, que exigem mais, evidentemente criam uma barreira para uma parte do público.

Juntei tudo isso a um comentário curioso que li no Twitter sobre o Querido Leitor. O autor dizia que para ler o Querido Leitor era preciso ter, pelo menos, o 'ensino médio', porque eu usei as palavras 'viés de escárnio' num post.

Fiquei intrigada. Escárnio é uma palavra complexa? E viés, de enviezado, por acaso é uma palavra muito erudita?

Mas estão todos certos, Sullivan,o twitteiro, o mundo. É assim que funciona. Se você escreve de uma forma primária, primitiva, muito simplória, mais gente vai entender. Ou melhor, todo mundo vai entender.

No entanto isso só faz sentido se for verdadeiro. Pra mim, não é. Eu teria que criar um personagem que escrevesse coisas como 'e aí, né, ela pegou e disse pra ele que, no fundo, ele não era um cara muito bonzinho, que ele era mais malvado do que ela tinha pensado, né."

Não sou um poço de erudição, mas, como observou o rapaz, eu faço um blog para pessoas que não apenas sabem, mas gostam de ler textos. E gostam de ver imagens, assistir vídeos, tudo com algum conteúdo.

De qualquer forma, fica a lição. Quem quiser buscar o sucesso em grandes proporções tem que fazer textos com palavras cotidianas, criar músicas com poucos acordes, fazer comida com poucos temperos,contar piadas óbvias e manter tudo dentro de um plano simples, sem nenhum rebuscamento. Quem quiser compor com mais acordes, escrever com metáforas ou cozinhar com temperos mais extravagantes, vai ter um público mais reduzido.

Ninguém é melhor ou pior do que ninguém porque é mais ou menos simples. Assim como uma comida pode ser boa só com tempero de cebola, alho e sal ou com iguarias refinadas. Cada um tem seu espaço, seu efeito, seu charme. Mas a gente tem que ter consciência de como as coisas são. E o alcance do que você faz, depende do conteúdo que você se propõe a usar.

Escolha seu mercado.
Sucesso: peça pelo número.

*do blog da Rosana Hermann

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