segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Falta cadeia no Brasil e O Aitalolula

O aitalolula *por Gilberto Dimenstein - na Folha de São Paulo

A imprensa é uma das razões para Lula ter virado presidente. O PT apresentou-se como um agrupamento ético (e o país acreditou), a partir de inúmeras denúncias e por muitos anos de desvios de recurso no Brasil --até então estávamos, jornalistas, cumprindo a nossa função de fiscalizar. Agora, a imprensa, na visão de Lula, é quase um partido a serviço da desestabilização da candidatura.

Já disse aqui e repito que Lula fez um bom governo por ter colaborado (e muito) para reduzir a miséria e ter estimulado um ambiente de prosperidade econômica. Poderia ter feito mais para estimular a economia, promovendo reformas. Mas a verdade é que vivemos um momento a ser comemorado --tudo isso num ambiente democrático.

Quem valoriza, de fato, a democracia está preocupado com os sinais de Lula --o ataque à imprensa é apenas um deles. Acrescentem-se aí os ataques ao Judiciário, quase beirando o deboche. Ou a frase pedindo o extermínio de um partido de oposição. Democracia, como se sabe, é, antes de mais nada, a garantia do direito das minorias.

Ao se despedir do governo, Lula parece estar seguindo um projeto de aiatolá. Fora do governo, mas mandando como se fosse governo. Esse projeto de 'aiotolula' dificilmente vai acabar bem, por pressupor que a sociedade estará controlada. E, aí, evidentemente, a imprensa é incômodo.

Falta cadeia no Brasil - Fernando Canzian * publicado na Folha de São Paulo

O Brasil só não vai mais para frente por um único motivo: não há medo de cadeia nesse país.

Quando políticos e agregados roubam e miseráveis votam, é a corrupção e o bolso que mandam.

O que os documentos publicados pela Folha que derrubaram a ex-ministra Erenice Guerra (Casa Civil) revelam é que havia um esquema no coração do governo para achacar empresários querendo obter recursos públicos.

O contrato em questão, negociado entre Israel Guerra e o empresário Rubnei Quícoli, da EDRB, poderia chegar a R$ 9 bilhões.

Jamais chegaria a isso, é certo.

O valor corresponde a um quinto do projeto do trem-bala SP-Rio. Só a propina (segundo o contrato) para o filho da ex-ministra (5%) seria de R$ 450 milhões. É dez vezes a megassena acumulada. É surreal, antes mesmo de ser irreal.

O que impressiona é a desfaçatez, o fato de ainda haver negociatas dessa natureza no Brasil.

A "turma do lobby" do filho de Erenice trabalhava junta na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) no mesmo período em que o país viveu um caos aéreo. Depois, montou o esquema que agora vem à tona.

Alguém vai ser preso?

No governo Lula, agências reguladoras como a Anac foram desmontadas, virando um antro de indicações políticas.

Não é preciso ter imaginação para se pensar no que ocorre longe da Casa Civil, no balcão de negócios em que devem estar se tornando essas agências.

Elas regulam e fiscalizam a nata do setor de infraestrutura no Brasil: energia, transporte, telecomunicações e saneamento, entre outras.

É aí que estará o dinheiro grosso, público e privado, para o Brasil crescer nos próximos anos.

Pior do que a candidata Dilma dizer que não sabia de nada é o presidente Lula atacar o que resta de fiscalização neste pais: a imprensa.

E, diga-se, os jornalistas livres.

Lula, do alto de sua popularidade: "Nós não vamos derrotar só nossos adversários tucanos. Vamos derrotar jornais e revistas que se comportam como partidos políticos e não têm coragem de dizer que têm partidos políticos, que têm candidatos".

Sr. presidente, em quem já votei: apesar de todas as grandes e reconhecidas conquistas sociais e na economia, o sr. se tornou um anão.

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