sábado, 23 de outubro de 2010

Aproveite o fim de semana e leia


"Estado laico" não é sinônimo de "ateísmo de Estado"


Nas últimas semanas, tornou-se grande a manifestação dos eleitores cristãos no cenário nacional. Tudo começou com o debate acerca do aborto. Então se estendeu aos demais assuntos que concernem aos cristãos.

Nesse mesmo tempo, apareceu uma militância irritada com o cenário onde se predominou a voz cristã. Essa militância se estende pelas páginas dos grandes jornais (em forma de artigos de opinião) e em marchas de minorias que se dizem oprimidas (como se os cristão estivessem fazendo uma marcha pela teocracia totalitária). A reivindicação dessa militância é aparentemente democrática: exige-se um Estado mais laico.

Aí é que surge o grande problema. Nessa militância impera um desespero antidemocrático. Para eles, os católicos devem ser calados o quanto antes. Em alguns sites de movimentos de minorias e de esquerda, já se disse que a Igreja tem de ser submetida aos mandos e desmandos do Estado, igual é feito na Venezuela do Sr. Hugo Chávez.

Informação para quem prega o Estado laico: Ele (o Estado laico) prega a independência do exercício religioso. O laicismo não prega a destruição e/ou supressão do exercício religioso. Por exemplo, não há problemas se um juiz quiser manter um crucifixo em sua corte. Para ele, é um símbolo de fé; Para um ateu, ou alguém de outra religião, é um objeto decorativo tão importante quanto uma cadeira ou uma janela. Não será a presença (ou ausência) de um crucifixo que mudará o discernimento do juiz. O que caracteriza o laicismo (e o magistrado) são seus métodos de independência e discernimento que são reconhecidos por todos, e não só por uma parcela. Como dito por Nicola Abbagnano em seu Dicionário de Filosofia (o melhor do gênero), "o laicismo não atende ao interesse deste ou daquele grupo político, religioso ou ideológico, mas ao interesse de todos" (p. 692).

Em um artigo escrito em um grande jornal de São Paulo, foi dito que a exigência da agenda religiosa por parte dos eleitores tornou-se uma atitude "extremista", uma vez que impede qualquer exercício de democracia, pois obriga o candidato a seguir um certo modus operandi de acordo com o seu eleitorado.

Ora, mas o que é isso senão a democracia!? Ninguém está obrigando os candidatos a nada. Obrigar é o mesmo que usar o poder da força física. É ridículo o emprego dos termos no referido artigo. O país tem mais de 70% da população que compartilha um mesmo interesse: a fé cristã. E esse grupo espera que não se descriminalize o aborto, devido a uma série de fatores. Não se está pregando um Estado teocrático totalitário, onde a religião manda em tudo, está apenas se exigindo uma certa conduta em um específico assunto. Cabe ao candidato segui-la ou não. E se ele quer ganhar votos, tem de partir dele a vontade de fazer uso dessa bandeira. À minoria, resta aceitar a opinião da maioria, se ela for legítima (como é no caso do aborto).

Além disso, é pura cretinice esperar "coerência" dos políticos alegando que este ou aquele nunca se dirigiu ao eleitorado cristão como se dirige agora. Que bom seria se as únicas incoerências da política fossem desse tipo. As incoerências por parte dos dois candidatos são bem mais graves que um simples redirecionamento de audiência. Há mais podridão e incoerência no exercício do poder do que imaginam nossas pobres cabeças. Que se direcione as preocupações à conduta geral em todos assuntos que regem nossa sociedade, não em um só.

*publicado no Blog
TeleHistória

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