A cada dia, 2,5 imóveis são demolidos, em média, em São Paulo. É a ponta mais visível – e, para muitos urbanistas, perversa – do boom do mercado imobiliário, que lança quase 600 prédios por ano na capital. Com a escassez de espaços urbanos, principalmente terrenos vagos em áreas nobres, a solução é destruir – levantamento feito pela reportagem aponta que São Paulo perdeu em três anos exatas 2.692 casas.
A pesquisa foi feita com base em todos os deferimentos de alvarás de execução de demolição publicados no Diário Oficial da Cidade[/ITALIC] de 1.º de janeiro de 2008 até quarta-feira. Neste ano, já foram demolidos 664 imóveis. No ano passado, foram 933, e 1.095 em 2008. Traduzindo os números, significa que uma casa acabou sendo derrubada a cada dez horas para dar lugar a prédios, espigões ou condomínios residenciais e comerciais.
Exemplos desse cenário não faltam, principalmente em bairros que até a década passada eram predominantemente ocupados por casas – como Vila Mariana, Ipiranga e Vila Olímpia, na zona sul; Pinheiros e Pompeia, na zona oeste; Tucuruvi, na zona norte; e Mooca e Vila Prudente, na zona leste. Para as empresas especializadas em demolições, trata-se de um mercado exemplar, que cresce quase 80% ao ano. Mas para urbanistas, a transformação faz os endereços perderem um pedaço importante da própria memória.
“Há um empobrecimento histórico de São Paulo, a unidade da vizinhança fica extremamente prejudicada”, diz o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).
Da taipa de pilão ao concreto, São Paulo foi construída e destruída inúmeras vezes – uma dinâmica que também ajudou a capital a ter um perfil eclético, diversificado e multifacetado.
A dúvida é: haverá o momento em que será impossível prover infraestrutura? “Em tese, deveria haver um momento em que a cidade estagnasse. Mas a grande metrópole, mesmo crescendo pouco, cerca de 0,6% ao ano, não pode deixar de buscar alternativas”, diz o diretor de estudos da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio, Luiz Paulo Pompéia.
E ele adverte: “Deveria se pensar a cidade, independentemente das questões político-partidárias, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do cidadão.”
Memória
Mesmo com todas as demolições, São Paulo ainda conserva belos sobrados, casarões e palacetes – e não falta quem use seu tempo livre para registrá-los enquanto ainda estão de pé. O resultado pode ser encontrado nos sites e blogs sobre o patrimônio arquitetônico da capital.
No São Paulo Antiga (www.saopauloantiga.com.br), por exemplo, criado em janeiro de 2009, são quase mil visitas diárias em busca da história dos 300 imóveis imortalizados nas fotos. O pesquisador Ralph Giesbrecht, criador do maior site sobre patrimônio ferroviário do País (www.estacoesferroviarias.com.br), está organizando um novo portal só sobre as ruas paulistanas.
O Piratininga.org é outra página conhecida. Foi criada pelo atual presidente da Associação Preserva São Paulo, Jorge Eduardo Rubies, um advogado que passa noites fotografando e escrevendo sobre a história da cidade.
*com informações publicadas no Jornal da Tarde
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