terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dez coisas que os corretores (de bolsa de valores) não contam

O investidor que pretende entrar na Bolsa, ou mesmo aquele que já aplica em ações, precisa ficar atento a coisas que nem sempre são explicadas direito pelas corretoras. Confira algumas dicas do orientador financeiro César Locatelli, sócio da F2-Formação Financeira.

1. A corretora ganha mais se você ficar comprando e vendendo o tempo todo. Ela não ganha se você ganhar e não perde se você perder. Ela ganha por negócio que você faz, quanto mais negócios mais corretagem. Há, portanto, um conflito de interesses implícito. Isso quer dizer que todos os corretores vão induzi-lo ao erro? Não. Mas é bom lembrar-se sempre que seus interesses não estão alinhados com os de seu corretor.

2. O poder dos controladores das empresas no Brasil ainda é excessivo. Houve um longo tempo em que muitos investidores brasileiros decidiram não operar com ações. E o motivo era que os acionistas majoritários, aqueles que detinham a maioria das ações ordinárias (e, por isso, controlavam a empresa) ganhavam muito em detrimento dos acionistas minoritários. Com o Novo Mercado e as iniciativas de governança corporativa muito se avançou para um tratamento mais igualitário. Não há dúvida, entretanto, que estamos longe de um equilíbrio justo. Prepare-se, então, para ver o grupo controlador agir contra seu interesse.

3. Ninguém, e muito menos o corretor, sabe para onde vão os preços das ações. Seu corretor apenas cumpre suas ordens, ele não assume risco. Ir atrás de dicas mirabolantes é um caminho bem curto para se perder dinheiro. Assumir que você não tem ideia do que vai ocorrer com os preços é um exercício de humildade saudável para seu bolso. E não se esqueça nunca que tem muita gente que se dedica a acompanhar o mercado e operar o dia todo, todos os dias. A chance de você reagir mais rápido do que eles ou saber usar melhor as indicações que o mercado te dá é igual a zero.

4. O desempenho de uma ação depende de muito mais coisas do que o desempenho da empresa. Você já ouviu as reclamações de que a empresa está super bem, mas o preço das ações não reage? E não reage por conta da taxa de juros alta que ainda temos, porque a Grécia quebrou, porque o PIB da China vai crescer mais lentamente, assim por diante. É preciso lembrar que são pessoas que dão as ordens de compra e venda e está ficando cada vez mais evidente que não se pode contar com grande dose de racionalidade nessas decisões.

5. O dinheiro que você não pode perder não pode ir para a Bolsa. Não jogue na Bolsa seu padrão de vida. Se você está poupando para comprar algo em dois ou três anos simplesmente fuja da Bolsa. Os juros brasileiros continuam fazendo a festa de quem tem dinheiro guardado. Não caia na tentação de tentar a sorte na Bolsa com dinheiro que você não pode perder. Quer fazer uma fezinha? Há outros lugares, que você conhece, onde se torna mais explícito que você está apostando e, com grande probabilidade, vai perder.

6. Ninguém conta quando perde. Seu vizinho, seu cunhado e seu colega de trabalho já te falaram das invertidas que tiveram na Bolsa? Aposto que nem seu corretor contou sobre os clientes dele que deixaram muito dinheiro na Bolsa. Esconder as fraquezas é muito frequente em nossas relações sociais. Você fica seduzido pelo ganho fácil que imagina que o outro teve.

7. Que as maiores possibilidades de ganho estão no longo prazo. Se você me perguntar o que considero longo prazo para a Bolsa, eu te diria 10 anos. Entrando com volumes baixos em relação ao que você tem de liquidez, de modo espaçado e com horizonte longo, podem te fazer ter alegrias. Não é uma certeza, mas uma possibilidade com muito maior chance do que tacadas curtas e dicas quentes.

8. Mais importante do que vender corretamente é comprar corretamente.Você já reparou que sempre que a Bolsa desaba aparecem inúmeros analistas alertando para não vender na baixa? Eles geralmente não te orientam na entrada e pedem que segure o prejuízo com mãos fortes. Mais prudente é identificar os recursos que quer ter na Bolsa e ir comprando aos poucos ao longo de um, dois ou mais anos. A chance de você entrar num pico, ponto que dificilmente será atingido de novo no curto prazo, é muito menor quando se compra em pequenas parcelas.

9. Que a esperança está no lugar do medo e vice-versa. Quando ganhamos qualquer troco, ficamos com um medo enorme de devolver esse ganho para o mercado. Quando temos prejuízos, ficamos sentados nele com a esperança de recuperar. O resultado é pequenos lucros, por sair muito rápido, e grandes prejuízos, por demorar muita a sair. Deixar o lucro crescer e cortar rápido os prejuízos pode dar melhor resultado. Foi um grande investidor americano do começo do século passado, Jesse Livermore, quem observou essa tendência desastrosa que todos temos.

10. Você não deve acreditar em grandes tacadas. Muitos acham que com uma grande operação farão o lucro da vida. Muito melhor que isso é buscar realizar uma série de investimentos, graduais, responsáveis, diversificados e sem esperança de quintuplicar o dinheiro de uma vez.

Por fim, diz Locatelli, você deve duvidar de tudo o que escuta e lê. “Tenha um pé atrás com gente, como eu, que ousa ficar te dizendo faça isso e não faça aquilo”, diz. Leia e pesquise muito. Acompanhe as opiniões dos analistas, mas procure formar seu próprio juízo sobre o mercado.

*com informações publicadas no Jornal da Tarde

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