domingo, 3 de julho de 2011

O legado de Itamar

Falecido no último sábado (dia 02/07/2011), aos 81 anos, o ex-presidente Itamar Franco governou o país por um curto período – pouco mais de dois anos –, mas tempo suficiente para conseguir o reconhecimento do papel importante que teve na história republicana brasileira. Guindado ao cargo máximo da Nação após o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, Itamar teve pela frente um dos períodos mais difíceis da vida política nacional; não bastasse o impacto e as incertezas decorrentes do afastamento de Collor, precisou se defrontar com o duro desafio de recuperar a economia combalida pela recessão, uma inflação galopante e um desemprego crônico.

Ao melhor estilo da política mineira, da qual era um dos mais insignes representantes, Itamar começou a trabalhar apoiado por um leque de partidos e amparado em sua imagem de homem público sério e austero. A ordem era recolocar o país nos trilhos e devolver a autoestima aos brasileiros. O resultado mais significativo desse novo horizonte que se descortinava foi o chamado Plano Real. Idealizado em seu governo, que tinha então como ministro da Fazenda o futuro presidente Fernando Henrique Cardoso, o Real se mostrou o programa econômico mais bem-sucedido já experimentado no Brasil. Quando assumiu, em 1992, a inflação superava os mil por cento ao ano; consequência das novas regras, dois anos depois, quando passou a faixa presidencial para FHC, a escalada inflacionária não chegava a 1% ao mês. Graças à estabilidade econômica, cujos reflexos vêm beneficiando e facilitando a vida de todos os governantes que o sucederam, o país pode retomar o seu desenvolvimento econômico e social.

Foi também durante o mandato de Itamar Franco que os brasileiros foram às urnas para cumprir uma disposição da Constituição de 1988, que previa a realização de um plebiscito nacional sobre a forma de governo a ser adotada pelo Brasil. O regime de República Presidencialista se manteve como vencedor, superando por ampla maioria as propostas de substituição pelo sistema parlamentarista ou monárquico. No episódio é possível supor que o bom desempenho apresentado pelo governo de Itamar também tenha contribuído para que o presidencialismo fosse referendado durante a consulta.

Prefeito, governador, senador, vice-presidente, presidente e depois embaixador foram algumas das funções relevantes desempenhadas por Itamar Franco, um homem que tinha a política no sangue. Pelos cargos que ocupou e desafios superados, notadamente à frente dos destinos da Nação, deixa uma marca positiva indelével na vida pública brasileira. Em discurso proferido pela televisão, no final de 1992, disse que “podia orgulhar-se o país capaz de dominar as suas mais graves crises políticas na ordem da lei”; podemos acrescentar que pode se orgulhar o país que teve um presidente com o tirocínio e a estatura moral de Itamar Franco como comandante capaz de devolver o Brasil ao bom caminho. A sua morte, em consequência da leucemia e de problemas respiratórios, ocorre quando cumpria mais um mandato popular, desta vez como senador por Minas Gerais.

*eidtorial publicado na Gazeta do Povo

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